28 julho 2010

Caminhos tortuosos.

Eu comecei a te ver nos lugares mais improváveis. Em casa, no meu quarto, depois de, sem querer, mencionar um ou outra expressão que você normalmente diria, embora não soe tão legal quando dita por mim; Na fila do supermercado, depois de comprar um potão de sorvete de flocos, mesmo sabendo que eu não conseguiria tomar nem um quarto dele; Na minha cama, porque o seu cheiro se impregnou nos lençóis e não quer sair de jeito nenhum, mesmo depois de lavado várias e várias vezes; Voltando para casa, já que ninguém pareceu notar que você me deixou porque sempre me perguntam sobre você se referindo àquele menino que sempre vinha me ver; Quando saio de qualquer lugar, porque sempre fico me perguntando se todos serão tão legais como você foi ao me deixar em casa, atravessando a cidade inteira e indo contra a sua direção original só para me ver chegar segura; Naquele cantinho escuro que só nós dois sabemos onde é, porque lá foi a primeira vez que você me olhou nos olhos, me puxou e me beijou de uma maneira única, que ninguém mais sabe fazer, e que eu tento desesperadamente procurar em outra pessoa ou ensinar como se faz; No meu travesseiro, porque sempre lembro da maneira como deitávamos por alguns minutos, sempre abraçadinhos, e de como eu me sentia animada porque nunca tinha feito aquilo com mais ninguém, embora fosse uma das coisas que e mais queria fazer e te dei a honra de ser o meu primeiro; Na barraquinha de cachorro-quente, onde você implicava comigo, puxava meu cabelo e batia nas minhas pernas enquanto me chamava de chata e feia, só para me ver emburrada e enraivecida; Em encontros casuais na rua, sempre tem alguém que faz aquele biquinho igual o seu e me faz sentir uma saudade imensa de fazer comentários irônicos sobre ele; Quando sento no computador ou olho para o telefone, porque me lembra a raiva enorme que eu tenho de você por nunca mais ter me ligado ou puxado conversa, mesmo quando eu estive no hospital e quase perdi a vida, e não teria ligado de perdê-la se pudesse ter te visto novamente uma única vez; No banco da praça, estando eu com outro numa tentativa frustrada de não pensar em você por alguns minutos, posso jurar ter te visto sentado à poucos metros, com uma menina loira, olhando para mim como quem me condena egoisticamente por estar com outra pessoa senão você; Porque foi você que me abandonou, que escolheu não mais ligar, se importar. Que preferiu me tratar com um daqueles objetos que se usa quando tem vontade e se joga fora quando não parece entreter tanto como da primeira vez. Porque é mais fácil, não é? É muito mais fácil ignorar a dor alheia, mesmo que essa dor seja por sua causa, a se envolver, se deixar levar, sofrer um pouco para, no final, ter o merecido final feliz. Caminhos tortuosos nem sempre nos levam a onde queremos, embora pareçam mais difíceis de atravessar e que, por dedução, nos darão muito mais satisfação. O caminho mais fácil nem sempre é o da dor, mas se tiver de ser, que seja então. Mas ainda assim, se nada disso fizer com que você me procure novamente, nem que seja para se desculpar por ter feito meu coração e minhas esperanças sujas e vacilantes em pedaços, posso pedir-lhe algo? Pare de aparecer em todos os lugares que eu vou, porque nenhum deles tem a mesma graça sem que estejamos juntos nele. Sabe, eu comecei a te ver nos lugares mais improváveis...




Um comentário:

Dama de Vermelho disse...

É impressionante como sempre "vemos" aquilo que mais queremos e não temos. Parece mais uma brincadeira sem sentido.