19 abril 2009

Apenas uma das portas.

Cansou. Não agüentava mais as birras infantis, aqueles biquinhos que ela fazia, e o fato de se chatear com coisas, a seu ver, insignificantes. Estava farto de suas ligações fora de hora só pra dizer o óbvio: que o amava. Aquele ciúme bobo e exagerado já estava passando dos limites, era impossível olhar para uma garota na rua sem ser repreendido por alguma ironia barata. Até o seu nome se tornou algo desagradável de ouvir, de tanto que ela o repetia só para que ele fosse mimá-la. Além disso, precisava de um tempo sozinho. Queria passar o dia inteiro deitado na cama, bebendo Coca Cola e jogando vídeo game com o irmão, mas que inferno, ela não deixava! Queria sair a qualquer custo, pra ficar fazendo a mesma pergunta de sempre. Porque ela quer saber o que acontece no meu dia? É quase sempre a mesma coisa, pensava. Terminou. Foi difícil, ela começou a chorar e perguntar as razões daquilo, mas não havia nada mais para ser explicado. Não estava totalmente feliz, mas era o melhor. Era nisso que queria acreditar. Foi nisso que encontrou um consolo nos dias que se seguiram. O tempo passou, mais precisamente cinco meses. O clima não estava tão frio como no início do ano, era raro sentir qualquer mera gotícula de chuva despencar do céu. Tornou a se relacionar, desta vez com uma morena. Não tinham nada sério, mas tudo corria bem. Decidiu levá-la ao shopping, pois havia combinado de encontrar alguns amigos. Ao chegar à área de fliperamas e ao deixá-la livre para que pudesse cumprimentar os demais, uma imagem lhe veio à mente. Os fios escarlates erguidos e presos no alto da cabeça, a camiseta regata, bege da mesma cor do short, e alguns movimentos rápidos e sincronizados. Aquela máquina de dança na parte interna nunca parecera tão vazia. A menina pediu que ele a acompanhasse até a livraria. Assim que entrou, um aroma de limão impregnou as suas narinas. Um homem, na cafeteria ao fundo, saboreava um pedaço de torta acompanhado de um capuccino. E mais uma vez, tornou a relembrar. Relembrou os momentos em que roçou seu nariz na pele dela e sentiu aquele cheiro cítrico, forte, e de como o tempo passava só para vê-la soprar o café durante quase dez minutos. Queria sair dali, aquelas imagens estavam deixando-o tonto. Assim que pôs os pés para fora da loja, um grito cortou o ar. “Susu!”. Como num reflexo, ele se virou e esperou que algum corpo despencasse sobre o seu, mas nada aconteceu. Ninguém apareceu. Quando se deu conta, uma outra morena havia corrido até um garoto loiro, provavelmente seu compromisso, e o abraçado fortemente, antes de selinhar os seus lábios. Não podia estar acontecendo. E quando sua acompanhante percebeu que alguma coisa o aflingia, tentou se comunicar. “Oi, tudo bem?”. Não, só podia ser uma brincadeira muito mal gosto. De muito mal gosto. No dia seguinte, resolveu visitá-la. A mãe da garota já o conhecia, tanto que pediu que entrasse e tentou lhe oferecer algo para beber, apesar de achar estranha a presença do moreno ali. Quando ele mencionou o nome, a expressão da mulher, que antes era prestativa e alegre, transformou-se numa careta de dor e agonia. No mesmo dia, à tarde, chegou ao hospital. O quarto era bonito, cuidadosamente decorado em vermelho e branco. Parecia feito especialmente para ela. E lá estava, deitada sobre a cama, cheia de fios e tubos. Seus olhos, antes tão verdes e vivos, encontravam-se adormecidos tão profundamente que ele temeu que nunca mais se abrissem. Mas, no momento, seguinte, despertou. Eles, que já estavam virados para a porta, não precisaram focar muito a imagem, apenas esperar que ela voltasse ao normal, nítida. Seus lábios, que agora não estavam mais tão vermelhos, modelaram-se em um sorriso pouco flexível, mas sinceramente feliz. Podia sentir.

- Eu sabia que você viria. – Estendeu a mão, para que ele a segurasse firme, para que nunca mais deixasse o lugar de onde não deveria ter saído. Do lado dela.

Um comentário:

Koe disse...

Muito legal o texto! ^^
Mas pra ser sincero...não entendi o título ! XD