21 setembro 2008

Até logo.

Não sei por que, mas hoje você me veio à cabeça. É engraçado o efeito que um “até logo” seu surte em mim. Sentada no meu quarto, tornei a lembrar os momentos que tivemos, todos aqueles sonhos psicodélicos que sustentavam a minha vida. Nostalgia, que palavra nojenta. Aquela foto sua que tenho guardada, a sua expressão sádica estampada nela, tornam impossível esquecer tudo o que aconteceu, a época mais intensa da minha vida. Conhecemos-nos de uma maneira engraçada, não éramos eu ou você, e sim o que gostaríamos de ser naquele momento. Você, sempre cordial, agiu como um perfeito cavalheiro. Naquele momento, você já usava as suas palavras de maneira persuasiva propositalmente para me hipnotizar, pois sem cerimônias, aceitei. Eu era tão pequenininha, e você era bem mais alto, bem mais velho, afinal, eu era só uma criança que não sabia nada da vida. Você sempre me pareceu inatingível, algo que poderia vir a desejar com todas as células do corpo, mas que nunca teria, e se tivesse, não saberia como controlar. Mas você estava ali, bem na minha frente, estendendo a mão para mim, e confesso que me senti receosa, mas aceitei. Afeiçoei-me a você de tal forma que contava as horas e os minutos para nos encontrarmos, ou apenas nos falarmos, pra me sentir daquela maneira de novo. Você dizia coisas que ficavam marcadas na minha mente, como uma tatuagem, não saíam de jeito nenhum, me perseguiam o dia inteiro. Parecia que eu havia tomado algum tipo de droga, embora eu não saiba a real sensação por nunca ter experimentado, mas acredito que seja parecido, só que mais intenso. Havia me tornado hiperativa da noite pro dia, dormia muito tarde só para passar mais tempo ao seu lado, acordando bem cedo no dia seguinte sem sentir sono algum. E todos os dias eram assim, eu não pensava em mais nada além de você, não existia mais família, não existiam mais amigos, era apenas você. E quanto mais nos falávamos, mais eu sentia vontade de falar. Desvendar os segredos por trás de sua personalidade deturpada havia se tornado o meu esporte preferido, mas creio que não tive tempo o suficiente para descobrir tudo. O mundo era nosso, não se limitava a árvores e prédios, era bem além disso. Conheci lugares fantásticos, além das nuvens, muito depois do que qualquer pessoa no mundo pode imaginar. E, como qualquer droga, eu me tornei dependente. Pensava em você, falava sobre você, respirava você. Não conseguia passar cinco minutos sem ouvir a sua voz, sem saber que você estava ali e que eu poderia vê-lo quando saísse da escola. Passei a gostar da maneira como brincava com a minha mente, como bem entendia, e as suas palavras erosivas me eram como música. Sem perceber, eu fui perdendo a minha essência, o que ainda sobrava de mim e que era só meu. Eu me tornei sua escrava, sua amante, sua fiel discípula, e tudo o que eu desejava era ser como você, e sentir algo além dos limites da terra que eu, supostamente, achava que havia. E ainda hoje, depois do nosso rompimento permanente e da minha recuperação parcial, ainda sinto falta daquela droga, das alucinações, do mundo que eu aprendi a ver além dos que os olhos pudessem mostrar, além do que qualquer pensador pudesse descrever, além da vida e além da morte, além dos portões do inferno. Sinto que alguma coisa minha foi perdida, algo meu se foi para sempre, mas eu sempre posso escutar um “até logo, minha pequena” seu para me tranqüilizar.

Um comentário:

aboutafool disse...

É mesmo? Eu tenho a impressão de que você fala de você mesma em todos os posts. (: